Encontros e conversas durante a testagem anti-HIV na atenção primária em São Paulo

Autores

  • Denise Zakabi USP
  • Ana Flávia Pires Lucas d'Oliveira Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
  • Ricardo Rodrigues Teixeira Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Resumo

O Ministério da Saúde tem recomendado a ampliação da testagem de HIV para a atenção primária, sob a perspectiva da análise de vulnerabilidade. O objetivo deste artigo foi analisar entrevistas realizadas com 11 profissionais de saúde da atenção primária de São Paulo sobre os encontros nos quais ocorrem o pedido e a comunicação do teste anti-HIV. A análise dos relatos dos entrevistados indicou que os profissionais demonstraram constrangimento em oferecer a testagem anti-HIV, exceto para casos com protocolos pré-estabelecidos, por temerem represália do usuário pelo estigma associado à aids. Destacou-se a prioridade do oferecimento da testagem para alguns grupos, particularmente: jovens, trabalhadores do sexo e homossexuais. Há, assim, um distanciamento entre o que é recomendado pelo MS e a prática da atenção primária, demonstrando a necessidade de supervisão e educação continuada para maior conjugação entre a teoria e a prática.

Biografia do Autor

Denise Zakabi, USP

Mestra pelo Departamento de Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e doutoranda pelo Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Ana Flávia Pires Lucas d'Oliveira, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1986), mestrado em Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente é docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Departamento de Medicina Preventiva.

Ricardo Rodrigues Teixeira, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985), mestrado (1993) e doutorado (2003) em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Doutor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2018-07-12

Edição

Seção

CIências da Saúde